As romarias quaresmais são "(…)as mais formosas tradições da Ilha de S. Miguel, porque nelas se revela a crença sadia, que, sendo o esteio de vigorosos antepassados, não deixa de perfumar a vida de modernas gerações, apesar da caudalosa torrente de impiedade querer avassalar todos os espíritos(…)" - sublinha no livro "A Alma do Povo Micaelense" o Pe. Ernesto Ferreira.Mas, de onde vem esta tradição das comunidades católicas de S. Miguel? No regulamento dos romeiros que a diocese de Angra editou há três anos refere-se que tem origem nas hecatombes naturais que devastaram Vila Franca do Campo - ao tempo a maior aglomeração populacional - a 22 de Outubro de 1522 e dias seguintes. Dando sempre a esquerda ao mar, caminham os romeiros micaelenses durante oito dias, transportando consigo a atitude de humildade, da doação ao próximo, da peregrinação por intenção da sorte dos outros. Bordão de conto, rosário de lágrimas, lenço, cevadeira e xaile são utensílios fundamentais destes romeiros.
No caminho peregrino, este grupo de homens - vulgarmente denominado "Rancho de Romeiro" - invocam a misericórdia divina e cantam louvores à Virgem Auxiliadora sob a direcção de um homem, a quem os companheiros dão o nome de mestre, experimentado e conhecedor das veredas de S. Miguel, mas que a todos trata por irmãos. E quais as responsabilidades do mestre? Manter a ordem do rancho, providenciar as orações nas igrejas, oferecer e suplicar a Deus e à Virgem as preces de que vem incumbido. Ele é o primeiro que se ajoelha em cada paragem. O último a recolher-se para o descanso nocturno e o primeiro a erguer-se na madrugada seguinte. Ao mestre deve-se obediência como a um capitão de navio. A meio do rancho segue o procurador das almas - durante a caminhada pede que se reze pelos defuntos.
São algumas as quadras cantadas pelos ranchos dos romeiros que calcorreiam as estradas de alcatrão, os valados e as canadas de toda a ilha, em visita penitente às igrejas e ermidas do seu trajecto:
"Caminha, irmão romeiro
Vence mais esta vitória,
P´ra que sejas herdeiro
Do reino da eterna glória"
Vence mais esta vitória,
P´ra que sejas herdeiro
Do reino da eterna glória"
Com o aproximar da noite, os chefes de família vão buscar um ou mais romeiros para lhes dar hospedagem. Chegados ao local da pernoita, cumpre-se a visita à Igreja paroquial. A penitência de cada dia termina com o acto de acolhimento e a oração da noite. O grupo separa-se mas leva as regras consigo: "Um romeiro nunca pede, apenas recebe de bom grado e humildemente o que lhe é dado". No dia seguinte, levantam-se muito cedo, reúnem-se e continuam a sua romagem. Após nova paragem numa ermida isolada ou na igreja do povoado, os romeiros mantêm a concentração que lhes dá o recolhimento da condição de peregrino. Faça chuva ou faça sol, estes micaelenses caminham... caminham... e conservam esta preciosa herança.
Os ranchos não têm número preferencial de aderentes. Tudo depende do tamanho da localidade, da ocasião, e, quem sabe, da fé dos homens da povoação. A paupérrima terra de pescadores - Rabo de Peixe - costuma ser aquela com o maior "cardume" de romeiros, este ano o rancho foi constituído por 123 romeiros. Já agora fiquem a saber, que se perguntar ao irmão procurador das almas, quantos irmãos vão no rancho, o número de resposta é o número de Avé Marias a ser rezado. Em 500 anos de história de Romarias, apenas uma mulher foi autorizada a acompanhar os romeiros, devido a uma promessa feita.
Mas por que se atrevem estes homens a sacrificar-se nestas Romarias? Talvez as condições económicas e os sustos apanhados nas vagas alterosas do Atlântico, os apelem a esta "caminhada conversadora" com a Senhora Santa Maria dos Romeiros.
Acredito que deve ser uma experiência única na vida, daquelas que nos faz pensar em todo o significado de uma qualquer existência!!!
Os ranchos não têm número preferencial de aderentes. Tudo depende do tamanho da localidade, da ocasião, e, quem sabe, da fé dos homens da povoação. A paupérrima terra de pescadores - Rabo de Peixe - costuma ser aquela com o maior "cardume" de romeiros, este ano o rancho foi constituído por 123 romeiros. Já agora fiquem a saber, que se perguntar ao irmão procurador das almas, quantos irmãos vão no rancho, o número de resposta é o número de Avé Marias a ser rezado. Em 500 anos de história de Romarias, apenas uma mulher foi autorizada a acompanhar os romeiros, devido a uma promessa feita.
Mas por que se atrevem estes homens a sacrificar-se nestas Romarias? Talvez as condições económicas e os sustos apanhados nas vagas alterosas do Atlântico, os apelem a esta "caminhada conversadora" com a Senhora Santa Maria dos Romeiros.
Acredito que deve ser uma experiência única na vida, daquelas que nos faz pensar em todo o significado de uma qualquer existência!!!
Por este ano as romarias estão-se a acabar, os últimos romeiros encontram-se neste momento a meio das suas caminhadas, sábado será a tão ansiada chegada e o fim de um penoso caminho.
A quem conduz nas estradas micaelenses nunca é demais pedir a atenção e o respeito por quem vai na romaria.