terça-feira, abril 11, 2006

Romeiros Micaelenses


As romarias quaresmais são "(…)as mais formosas tradições da Ilha de S. Miguel, porque nelas se revela a crença sadia, que, sendo o esteio de vigorosos antepassados, não deixa de perfumar a vida de modernas gerações, apesar da caudalosa torrente de impiedade querer avassalar todos os espíritos(…)" - sublinha no livro "A Alma do Povo Micaelense" o Pe. Ernesto Ferreira.Mas, de onde vem esta tradição das comunidades católicas de S. Miguel? No regulamento dos romeiros que a diocese de Angra editou há três anos refere-se que tem origem nas hecatombes naturais que devastaram Vila Franca do Campo - ao tempo a maior aglomeração populacional - a 22 de Outubro de 1522 e dias seguintes. Dando sempre a esquerda ao mar, caminham os romeiros micaelenses durante oito dias, transportando consigo a atitude de humildade, da doação ao próximo, da peregrinação por intenção da sorte dos outros. Bordão de conto, rosário de lágrimas, lenço, cevadeira e xaile são utensílios fundamentais destes romeiros.
No caminho peregrino, este grupo de homens - vulgarmente denominado "Rancho de Romeiro" - invocam a misericórdia divina e cantam louvores à Virgem Auxiliadora sob a direcção de um homem, a quem os companheiros dão o nome de mestre, experimentado e conhecedor das veredas de S. Miguel, mas que a todos trata por irmãos. E quais as responsabilidades do mestre? Manter a ordem do rancho, providenciar as orações nas igrejas, oferecer e suplicar a Deus e à Virgem as preces de que vem incumbido. Ele é o primeiro que se ajoelha em cada paragem. O último a recolher-se para o descanso nocturno e o primeiro a erguer-se na madrugada seguinte. Ao mestre deve-se obediência como a um capitão de navio. A meio do rancho segue o procurador das almas - durante a caminhada pede que se reze pelos defuntos.
São algumas as quadras cantadas pelos ranchos dos romeiros que calcorreiam as estradas de alcatrão, os valados e as canadas de toda a ilha, em visita penitente às igrejas e ermidas do seu trajecto:
"Caminha, irmão romeiro
Vence mais esta vitória,
P´ra que sejas herdeiro
Do reino da eterna glória"
Com o aproximar da noite, os chefes de família vão buscar um ou mais romeiros para lhes dar hospedagem. Chegados ao local da pernoita, cumpre-se a visita à Igreja paroquial. A penitência de cada dia termina com o acto de acolhimento e a oração da noite. O grupo separa-se mas leva as regras consigo: "Um romeiro nunca pede, apenas recebe de bom grado e humildemente o que lhe é dado". No dia seguinte, levantam-se muito cedo, reúnem-se e continuam a sua romagem. Após nova paragem numa ermida isolada ou na igreja do povoado, os romeiros mantêm a concentração que lhes dá o recolhimento da condição de peregrino. Faça chuva ou faça sol, estes micaelenses caminham... caminham... e conservam esta preciosa herança.
Os ranchos não têm número preferencial de aderentes. Tudo depende do tamanho da localidade, da ocasião, e, quem sabe, da fé dos homens da povoação. A paupérrima terra de pescadores - Rabo de Peixe - costuma ser aquela com o maior "cardume" de romeiros, este ano o rancho foi constituído por 123 romeiros. Já agora fiquem a saber, que se perguntar ao irmão procurador das almas, quantos irmãos vão no rancho, o número de resposta é o número de Avé Marias a ser rezado. Em 500 anos de história de Romarias, apenas uma mulher foi autorizada a acompanhar os romeiros, devido a uma promessa feita.
Mas por que se atrevem estes homens a sacrificar-se nestas Romarias? Talvez as condições económicas e os sustos apanhados nas vagas alterosas do Atlântico, os apelem a esta "caminhada conversadora" com a Senhora Santa Maria dos Romeiros.
Acredito que deve ser uma experiência única na vida, daquelas que nos faz pensar em todo o significado de uma qualquer existência!!!
Por este ano as romarias estão-se a acabar, os últimos romeiros encontram-se neste momento a meio das suas caminhadas, sábado será a tão ansiada chegada e o fim de um penoso caminho.
A quem conduz nas estradas micaelenses nunca é demais pedir a atenção e o respeito por quem vai na romaria.

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente !
Florbela Espanca

sábado, abril 08, 2006

A Minha Ilha

MJM



I Parte

Habito aqui nesta ilha de bruma,
toda ela cercada por alva espuma,
de um mar azul que a acaricia,
desde a praia à mais alta penedia:
habito em matizes de verdura,
respiro o vento e sua frescura,
palmilho jardins em suas estradas;
deito-me em noites estreladas.
Acordo com odores a maresia,
creio aquilo que a terra cria,
subindo ao cume da montanha,
desfruto uma sensação estranha:
e danço, danço e torno a dançar,
nas nuvens que me vêm abraçar.
II Parte
Habito aqui, numa misteriosa ilha,
bonita, colorida, da Atlântida filha,
Abraço suas lagoas, quentes caldeiras,
Voo céu sobre suas cumeeiras,
revendo lendas que foram contadas
em azul e verde lá encantadas.
Passeio por entre chuva miudinha,
trazendo o verde para alegria minha,
Acabando por embriagado ficar
por tanta beleza poder abraçar.
Partilho de perto todos os seus odores,
descobrindo nela variados amores,
e quando o Sol se vai deitar,
deixo-me em sonhos embalar:
e canto, canto e torno a cantar,
antes que o sol me venha acordar.
III Parte

Vivia aqui, em mantos ondulantes,
de tamujo e bracego, verdejantes,
haviam cedros e fetos, majestosos,
onde nidificavam priolos amorosos.
Ainda lembro as cores dos vinháticos,
das urzes dizimadas por lunáticos,
deixando minha ilha mais nua,
como se a natureza fosse sua.
Palmilhava alcatifas de musgão,
esponjas férteis, como um condão,
onde as galinholas se alimentavam,
e livres, lindas, se acasalavam.
Recordo-me das frescas ribeiras
em correria, livres, altaneiras,
dando-me toda a sua frescura,
molhando minha cara com ternura:
e choro, choro e torno a chorar
por ver minha ilha a agoniar.
by Valdemar Lima Oliveira

quarta-feira, abril 05, 2006

Cá estou eu!

Olá,

cá estou nessas andanças, graças ao meu colega Koli.

Vou tentar fazer algo neste cantinho, se conseguir é claro.

Bêjes c sotake

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